Artistas que fizeram incursões pelo design de moda na Segunda Metade do Século XX
- Eduardo Bernardino e Rita Couto
- 31 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 26 de abr. de 2021
Ao longo da segunda metade do século XX, inúmeros artistas utilizaram a moda como uma das suas muitas formas de expressão e uma ferramenta de auxílio na criação de arte.
Yayoi Kusama

Cena do documentário de Heather Lenz, Kusama: Infinity.
“One day I was looking at the red flower patterns of the tablecloth on a table, and when I looked up I saw the same pattern covering the ceiling, the windows and the walls, and finally all over the room, my body and the universe. I felt as if I had begun to self obliterate, to revolve in the infinity of endless time and the absoluteness of space, and be reduced to nothingness.” Yayoi Kusama
Yayoi Kusama, artista japonesa, é conhecida pelo seu trabalho na área da pintura, escultura, performance e também pelas suas instalações. Todo o seu trabalho é marcado por uma componente comum que é a utilização do padrão Polka Dots, ou seja, às bolinhas, a sua marca registada. No seu trabalho, as formas e o que significam realmente não importam. No final, o seu objetivo ao pintar bolinhas era sentir-se a fundir e tornar-se parte de um universo maior.
A sua primeira de muitas exposições foi em 1959 em Nova Iorque, onde conheceu e inspirou artistas da vanguarda importantes, incluindo Donald Judd, Andy Warhol e Joseph Cornell. A sua arte fez parte de desenvolvimentos artísticos empolgantes, como a Pop Art. Ela também foi uma das primeiras artistas a fazer experiências com a arte performativa. Kusama experimentou e documentou alucinações, em que os temas do infinito e da repetição sempre foram uma preocupação, criando cenários surrais e subversivos.
Além de ser uma pioneira na área da arte plástica, Yayoi Kusama utilizou a sua criatividade em outros contextos, como a música, o design, a escrita e a moda. No início da sua carreira, ela fez questão de destacar o seu país de origem através das suas escolhas de vestuário, usando principalmente quimonos nos seus trabalhos. Yayoi Kusama foi influenciada pelo movimento anti-guerra do Vietname e, assim, elementos sociais foram adicionados à sua arte. Desta forma, espelhando a sua arte, Kusama vestia-se de forma tão imprevisível quanto a sua próxima instalação. Mais tarde, ela começou a criar peças de vestuário e têxteis, que eram vendidas em lojas de departamento e boutiques de todos os EUA. Em 1969, ela abriu a sua própria boutique, com designs vanguardistas, ousados e com recortes estrategicamente colocados para expor os seios, nádegas ou genitais do usuário. Um momento fulcral para a sua contribuição artística e na moda foi o vestido de noiva para duas pessoas que desenhou para a sua performance Homosexual Wedding.

Yayoi Kusama, Walking Piece, 1966.

Esquiços do Kusama dress e Squid dress.
Homosexual happening and fashion show at Kusama's Studio, Nova Iorque, 1968.
Keith Haring
Keith Haring foi um grande artista do séc.XX conhecido pelos seus desenhos tipo grafite, popularizado na ruas de New York e em círculos artísticos dos anos 80. Com a sua curta vida teve um grande impacto nas áreas da arte e da moda que prevalecem até ao presente.
O seu trabalho também serviu de inspiração para vários designers de moda como Rei Kawakubo, Stephen Sprouse e Vivienne Westwood, que usavam os seus desenhos como prints e motivos para as peças de vestuário.
Desde a sua chegada a New York, Haring começou por se infiltrar em grupos urbanos constituídos por artistas e visionários, tornou-se curador de exibições no Mudo Club, aparecendo regularmente no Club 57, onde criou relações profissionais e artísticas com grandes nomes como Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat e Madonna.
A sua ferramenta de expressão era giz, desenhava por toda a cidade com os seus esquissos bem conhecidos, figuras constituídas por linhas, a retratar temas politicos e sociais assim como assuntos pessoais.
As suas intervenções na moda foram experimentais, de um modo performativo e único, e em particular com Grace Jones.
Haring e Grace Jones, considerados dos artistas mais importantes e peculiares da segunda parte do século XX, colaboraram em vários projetos criando obras de arte vivas, sendo Jones a tela onde o trabalho é exibido, explorando novas ideias de criatividade e definindo um novo simbolismo da junção da arte e moda.
Em momentos memoráveis da sua carreira, Jones é vista coberta com a pintura geométrica corporal feita pelo próprio artista, no video ‘I’m Not Perfect’ assim como em atuações ao vivo. Uma das suas colaborações está exibida no filme Vamp, como mostra no vídeo abaixo.
Louise Bourgeois

A Banquet 7 A Fashion Show Body Part, Hamilton Gallery, Nova Iorque, 1978.
Louise Bourgeois, artista franco-americana, cresceu habituada a ajudar os seus pais numa oficina de restauração de tapeçaria, o que levou à criação de uma profunda conexão com os têxteis desde a sua infância. Bourgeois é mais conhecida pelas suas esculturas monumentais de aranhas e falos, mas a artista também foi uma prolífica fabricante de trabalhos têxteis. O pai de Louise Bourgeois era muito elegante, então o seu relacionamento com as roupas e a sociedade foi importante para o seu crescimento. Bourgeois entendia que as roupas eram sobre aquilo que queremos esconder e, a partir dos anos 90, usava quase exclusivamente a cor preta.
A sua influência na moda foi distinta e marcante quando coreografou um desfile de moda com pessoas vestidas com peças semitransparentes de látex, com formas bulbosas, com uma estética camp. Este desfile abordava principalmente as ideias de vulnerabilidade e exposição. Mais tarde, Bourgeois começou também a pendurar vestidos velhos, combinações e pijamas em instalações. Assim, no seu trabalho, demonstrou intimidade com os tecidos que utilizava, muitos deles provenientes de roupas já usadas que lhe pertenciam. A artista associava o ato de costurar a consertar algo a um nível simbólico e psicológico, como o tentar consertar os danos causados nas relações pessoais. Desse modo, manipulava também panos gastos pelo tempo, cheios de memórias, em figuras quase em tamanho real ou cabeças semelhantes a retratos misteriosos. Em 1999, contratou uma costureira, Mercedes Katz, para auxiliá-la neste trabalho e instalou-se numa área semelhante a uma oficina no andar inferior da sua casa, onde também instalou duas pequenas impressoras. Em 2000, Bourgeois passou então a imprimir em lenços velhos e depois em outros tecidos, e também construiu livros com estas colagens de tecido. Estes trabalhos têm uma presença tátil que lhes dá uma dimensão decididamente escultural.
“The act of sewing is a process of emotional repair” Louise Bourgeois
Louise Bourgeois, peças para a performance A Banquet / A Fashion Show of Body Parts, 1978;
Comme des Garçons Fall 2015 and 2016 Ready-to-Wear.
Pink Days and Blue Days, 1997.
Arched Figure, 1999.
Fabric Drawings.
Já na atualidade, depois da sua morte, Bourgeois continua a ser uma inspiração no mundo da moda, sendo que designers como Helmut Lang, Simone Rocha e Rei Kawakubo para a Comme des Garçons fizeram coleções inspiradas no trabalho da artista.
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