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A Importância da Arte e da Moda para a preservação da Cultura

  • correntesmoda
  • 28 de jun. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 30 de jun. de 2021

Cultura, Moda e Arte estão naturalmente interligados, sendo a moda um veículo de expressão cultural e até mesmo uma representação e conservação da cultura.

Moda pode se definir como algo popular num certo grupo de pessoas, num espaço de tempo específico, ao contrário da cultura, um lifestyle partilhado por uma sociedade com precedentes históricos, sociais e económicos.

A fusão destas áreas é presente em representações históricas, em contra-culturas e a sua consequente evolução para o mainstream, e ainda o grande impacto da cultura africana no campo da moda.



Ilustração/ Arte realista


Um dos métodos de preservação da tipologia e veracidade dos estilos ao longo das épocas tem sido a ilustração e a pintura realista, uma constante fonte de inspiração na moda que permanece durante a história e espalha-se em várias culturas.

Na época renascentista, pintores como Jacopo Bellini, Antonio del Pollaiuolo e Antonio Pisanello foram fortemente influenciados pela moda e fascinados por a representar, muitos deles divagando também para a área do design de moda e têxtil.



Virgin of Humility,

adored by a prince of the House of Este,

1440, Jacopo Bellini

Portrait of a Young Woman, 1470-1472, Pollaiuolo


Desenhos da corte nas suas vestes, 1450s, Pisanello



Uma personagem que se destaca é Paul Poiret, que marcou a moda no inicio do século 20, tanto na sua produção como na sua representação através de ilustrações. Considera-se o primeiro couturier a interligar com sucesso a arte e a moda.



Peças para apresentações teatrais

1911/1919, Poiret

Ilustrações das peças de Paul Poiret

início do séc. 20



Muitas das obras recuperadas com a figuração da moda estão fortemente ligadas ás próprias culturas, como no caso da África, India, Japão e Islão. São essas obras que preservam a veracidade do vestuário, principalmente de culturas e minorias não amplamente reconhecidas.

Na religião islâmica não permite a representação de figuras vivas o que elimina a presença do corpo humano, usando o arabesco com caligrafia e mosaicos, que depois é transpostas para coleções e peças inspiradas nesta arte.



Mosaico arabesco no domo da Tumba de Hafez,

Xiraz do Sul de Chumeilândia.

Tata Naka Autumn/Winter 2014


Processo criativo


Designers no âmbito da moda contemporânea escolhem colaborações com artistas que divergem artisticamente e culturalmente deles para criar debates artísticos complexos, resultando em resultados multi-culturais que saeam de azulejos, tapetes artesanais, acessórios e padrões tradicionais.

Férias e destinos turísticos são dos locais mais usados para fonte de inspiração, designers como Tory Burch e Kim Jones usam as suas aventuras em destinos exóticos como a sua veia de criatividade.


Mulberry, uma marca que preserva a herança Inglesa inspira-se em vários aspetos da cultura britânica, explorando os vários conceitos da arte associados.

Apresenta os seus trabalhos em locais importantes da Inglaterra como a casa de família da princesa Diana e tem como referências elementos da cultura pop como o filme My Fair Lady e o evento Royal Ascot.



Mulberry Spring/Summer 2018

Royal Ascot, Reino Unido 2018

My Fair Lady, 1964



A fotografia também integra cada vez mais o conceito de arte, com museus focados em exibições fotográficas, que funcionam como fonte de criatividade para designers.

Foi o caso dos diretores criativos da marca Preen, Thea Bregazzi and Justin Thornton, que no National Maritime Museum, na Austrália, ficaram movidos pela exposição “Haenyeo of Jeju” e na população de uma ilha da Coreia do Sul onde vivem numa sociedade matriarca onde as mulheres são as principais fontes de economia.

A coleção captura a essência de vida destas mulheres trabalhadoras, que promovem a continua luta contra o estatuto misógino atribuído à mulher, aponta também preocupações ecológicas e soluções sustentáveis para os problemas de poluição marítima.

A moda é, neste caso um palco para a representação de culturas, tendo como referência a fotografia, que se estende para a literatura e arte artesanal local.


Haenyeo: The Sea Women of Jeju Island, National Maritime Museum

Preen Autumn/Winter 2018





Contra Cultura e Minorias Étnicas e Sociais


Na sociedades ocidentais, contra-culturas e minorias usam o vestuário para visualmente expressar os seus ideais e valores sociais.

Podemos ver isso nos Punk com as suas características DIY inspirados em vários campos artísticos assim como os valores estéticos conservadores de Judeus Ortodoxos e outras religiões com fortes referências visuais ou até mesmo na cultura do desporto, como o golf com a tradição dos polos.

A cultura mainstream contemporânea associa esses estilos a uma identidade estética e não ao símbolo de revolução ou importância histórica e social a que estão associados embora marcas como Vivienne Westwood ainda mantém o espirito original e continuam a mensagem assim como evidenciam a arte provenientes e características do movimento nas suas coleções.


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Vivienne Westwood Spring/Summer 2020

The Clash, Clash City Rockers / Jail Guitar Doors Poster, 1978



Batsheva Spring-Summer 2020

Casal judeu ortodoxo, Williamsburg




A moda africana é conhecida pela diversidade e mistura de tecidos, padrões e texturas, inspirados nas várias tribos , representação de vários povos e regiões do continente. O uso da arte tradicional africana é muito comum em todas as áreas do design, incluindo a moda, com valores mais relacionados com a alta-costura, com coordenados únicos feitos de forma tradicional para cada indivíduo.

A cultura é transposta nos métodos artesanais usados na produção dos tecidos, sendo alguns deles o Kente (Ghana), Kikoi (Kenya), Adire (Nigeria), Boubou (Senegal), Akwete (Nigeria).

As suas roupas assim como os adornos são indicações da sua riqueza e hierarquia social.



Adire

Akwete

Tribo de Kenya



A apropriação destes estilos por marcas de moda é um assunto sensível pois levanta questões de apropriação cultural e uso de uma cultura com valores históricos e sagrados como uma mera apresentação estética, são coleções que marcaram a história da moda e que continuam a ser referência ou servem de exemplo para novos designers de como abordar ou não culturas a qual não pertencem mas dão conhecimento das culturas àqueles espectadores que não as conhecem.

Na atualidade há uma vasta gama de designers de descendência africana ou de outras culturas que exploram a sua cultura e apropriam-se de peças de arte ou estilos estéticos africanos nas coleções e assim a preservam e lhes dão continuidade na moda contemporânea.

YSL Spring/Summer, 1967 'African Collection'

Christopher John Rogers fall 2020


Pyer Moss, Spring/Summer 2019


Coleção intitulada “Stop Calling 911 On The Culture", feita em colaboração com o artista Derrick Adams, celebra a herança da cultura africana assim como transmite mensagens políticas e sociais.

Uma marca de destaque é U.Mi-1, encontra o equilíbrio de criar roupa contemporânea que celebram e representam devidamente a herança multicultural da marca. Com designs inspirados pela história cultural da Nigéria assim como nos movimentos contemporâneos de arte ou e descendentes dessa cultura. Usando tecidos tradicionais como Adire e Aso-oke, projetados por designers e artistas nigerianos feitos com métodos artesanais.

A tipologia e styling dos coordenados são inspirados no minimalismo japonês adotado pelo diretor criativo. A marca acaba por ser uma plataforma da cultura africana e prestam respeito ao simbolismo cultural.



U.Mi-1 Spring/Summer 2020





 
 
 

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© 2021 por Eduardo Bernardino e Rita Couto.

Correntes da Moda Contemporânea.

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